sexta-feira, 18 de julho de 2008

Nikon F e F2 - as SLR's que mudaram o mundo da fotografia 35 mm





São sem dúvida as máquinas de mais sucesso em todo o mundo e que vieram revolucionar  o mundo da fotografia de 35mm desde então. São autênticas lendas, verdadeiras estrelas no universo da fotografia de 35mm.

Um pouco de história. Recuemos a 1959. Apesar dos japoneses na altura estarem a ser a novidade no sector - se bem que a indústria japonesa neste mesmo sector já existisse há largos anos ( a Konica é a marca mais antiga de máquinas japonesas ( 1873 ) seguida pela Nikon ( 1917 ) e pela Asahi Pentax ( 1919 ) - toda a gente sabia que os alemães eram os lideres inquestionáveis. As Leica eram as máquinas "rangefinder" profissionais mais vendidas e as Rollei TLR as preferidas no formato 120. Para além disto, as excelentes ópticas produzidas pela Carl Zeiss, deram origem às Contax e Contarex. Só comprava máquinas japonesas, quem nao tinha dinheiro para comprar as alemãs.

As SLR eram tidas como máquinas muto lentas, - o primeiro fabricante mundial a fazer uma SLR, foi a Asahi-Pentax, com a AsahiFlex I - pois que os espelhos não tinham retorno automático e o diafragma nao era também automático. O que significava isto ? Tão simples como que, quando se tirava a fotografia, o espelho do pentaprisma ficava em cima e até que o filme fosse avançado, ficavamos a olhar para um buraco negro. O primeiro fabricante a introduzir o primeiro espelho de retorno automático foi também a Asahi Pentax, através da AsahiFlex IIb, em 1954, mas nem toda a gente se conseguia adaptar à inovação. E permanecia o velho problema do diafragma nao ser automatico: se tirassemos uma fotografia a f/16 por exemplo, depois da fotografia tirada, o diafragama permanecia em f/16 e nao voltava à sua abertura mais rápida, a não ser manualmente. Ora era mais uma operação que o fotógrafo tinha que fazer antes de tirar nova fotografia: voltar a colocar o diafragma da lente na sua abertura máxima, de forma a poder novamente ver com claridade uma nova fotografia a ser tirada.

A luta entre fabricantes para desenvolverem a SLR do futuro, era renhida nos anos 50. Apesar de alguns deles parecerem estar no bom caminho - nomeadamente a Asahi-Pentax ( hoje só Pentax ) ,que foi sem dúvida a grande impulsionadora na altura - nenhum deles tinha na realidade uma SLR 35mm profissional, que fizesse realmente frente às melhores "rangefinders" do momento. Até que apareceu a NIKON F. 

Curiosamente no  Philadelphia Photo Show de 1959, apareceram 3 novas linhas de SLR's japonesas: a Minolta SR2, com uma objectiva Rokkor 55/f:1.8 com um preço de 249,90 US$, a Canon Canonflex com uma objectiva Canon 50/f:2 com um preço de 299.95 US$ e a Nikon F com uma objectiva Nikkor 50/f:2,com um preço de 359,50 US$.

A Nikon F apesar de mais cara, eclipsou as outras e tornou-se desde então a primeira máquina SLR 35mm profissional.  Os profissionais "emigraram" em bloco da Leica M ( e de todas as outras ) para a Nikon F , e até hoje a Leica nunca mais se recompôs. Mas mais do que a mudança de profissionais da Leica para a Nikon, o que ficou na altura provado foi que a industria fotográfica japonesa fazia finalmente frente à indústria fotográfica alemã. A partir de então os japoneses lideraram, deixando os alemães na tentativa de os apanhar. A Zeiss simplesmente abandonou o fabrico de máquinas fotograficas, a Rollei aguenta-se porque foi comprada pela Samsung, a Leica continuou o seu negócio de indole familiar, sendo que ficou com laços estreitos com a Yashica.

A Nikon F foi sem dúvida o grande ponto de viragem. Estava na altura muito à frente da concorrência em todos os sentidos. Mas porquê? Que tinha esta máquina de tão fantástico para de uma assentada, virar o rumo dos acontecimentos ?

Foi a primeira SLR a ter:

Possibilidade de motorização através de um motor portátil que avançava o filme automaticamente; conseguia 4 frames por segundo com o espelho bloqueado;

Uma gama de objectivas que iam desde os 21 aos 1000mm, desde o primeiro dia de comercialização;

Um visor que cobria o campo de visão a 100%;

Permitia o bloqueio manual do espelho;

Permitia ecrãs de focagem intermutáveis;

Contava com o primeiro sistema profissional, para além das objectivas, uma panóplia de acessórios vastíssima, que ofuscou toda a concorrência;

Contava também com um porta rolos opcional que se aplicava na parte de trás, que albergava até 250 fotografias, aquilo que os profissionais queriam para eventos desportivos;

Uma precisão de fabrico e robustez a toda a prova. Os profissionais ganhavam a vida com ela e nao queriam passar o tempo com visitas súbitas às lojas de assistência técnica; não se chegava às Leica ou Zeiss Contarex mas a diferença era tão ténue, que pouco importava;

Podia receber diversos visores e pentaprismas opcionais, - os famosos Photomic's - entre os quais o visor de visão superior, tipo máquinas de médio formato; era uma máquina modular,toda ela constituida por módulos que se intermutavam mutuamente;

Depressa a Nikon aumentou o leque de acessórios, criando o sistema mais completo e avançado de fotografia do mundo;

Foram produzidas  862,600 Nikon F e um dos anúncios mais populares nos anos 60 era:

" Hoje praticamente nao existe outra escolha "

Seguiram-se à F, a F2 , a F3, a F4 a F5 e a F6, todas elas referências no meio fotográfico mundial, mas nenhuma delas tão famosas quanto a F e a F2.

A F2, foi a evolução natural da F de tal forma, que alguns dos elementos de uma e de outra se podiam trocar entre si, dando uma liberdade excepcional ao fotógrafo que tivesse uma F e quisesse comprar o corpo de uma F2. Lançada em 1971 e produzida até 1980, a F2 nao só tinha melhoramentos importantes e significativos no que toca a F, que a tornavam ainda mais apetecivel e manuseavel pelos profissionais, mas sobretudo o sistema da Nikon que a acompanhou e foi evoluindo, permitiu que a F2 se tornasse uma máquina camaleónica, não havendo serviço fotográfico que nao se pudesse fazer com esta máquina excepcional. Se a F ficou famosa por ter mudado o rumo da fotografia 35mm, a F2 ficou famosa por ser a máquina profissional mais usada em todo o mundo. A Nikon dominava o sector. Para se ter uma idéia real do avanço que a Nikon tinha,na altura em que a F2 saiu, estava a Canon a iniciar-se neste mercado das SLR's profissionais com sistema dedicado, com a excelente e bonita Canon F1. Mas costuma-se dizer que "candeia que vai á frente, alumia duas vezes" e a F2 alumiou de tal forma, que a Canon F1 ficou sempre na sombra. Até a designação da Canon é uma inapropriada "cópia" da Nikon. Os diversos motores auxiliares da F2, podiam "acelerar" desde os 5 fps ( frames por segundo ) sem o espelho bloqueado, até aos 14 - sim quatorze - fps. Hoje , continua a ser a Nikon a conseguir mais frames por segundo, com a novíssima D3 que consegue entre 9 fps (modo FX) e 11 fps (modo DX) de forma e autofoco continuo.

A resistência e construção da F2 - superior já à F e não temendo desta feita qualquer comparação às Leica, - fez com que se espalhasse a "boca" de que a F2 era uma "arma de arremesso"...que tirava fotografias. Ainda hoje eu digo o mesmo da minha D200.

Muitas vezes perguntam-me: "Olha lá e se algum dia te tentam roubar a máquina na rua ? "

A minha resposta é sempre a mesma: " primeiro o gajo leva com a máquina nas ventas e se o larápio resistir ao impacto - o que duvido - então dou corda aos sapatos e piro-me ". Não deverá ser agradável levar com cerca de dois quilos de máquina arremessada nas trombas.

A Nikon F e a Nikon F2 ficaram a ser sem dúvida as máquinas SLR profissionais mais respeitadas e utilizadas em todo o mundo. Só haviam na altura - anos 70 -  dois sistemas que podiam comparar-se ao sistema da Nikon F2: o sistema da Olympus OM1/OM2 e o sistema da Canon F1.

Tenho uma Nikon F2A Photomic, que o meu pai me ofereceu em 1978, da qual me orgulho imenso, ainda hoje lhe pego com imenso carinho, é para mim a menina dos meus olhos - de nome Nikolina - com 30 anos de existência, muita pancada, mas que nunca, mas nunca precisou de nada a não ser a mudança das baterias do fotómetro, que em 30 anos...mudei-as somente duas vezes. Lembro-me que antes de comprar a minha primeira Nikon - uma Nikkormat FT2 em 1974 - o saudoso professor José Marques da Silva - que tinha uma Nikon F -  e causador principal deste minha paixão me disse:

 - " Olha lá , só compras Nikon ouviste? Se comprares outra marca nao falo mais contigo ". Valeu o que valeu. Na altura estava eu inclinado para uma Minolta SRT 303b ou para uma Canon, mas quando peguei na Nikkormat e ao lembrar-me das palavras dele, foi mesmo Nikon que comprei e nunca mais me arrependi da escolha.

Compreendem agora porque sou um Nikonista ferrenho ? Sou sim. Respeito as outras marcas sem dúvida. Tenho um especial carinho e admiração pela Olympus ( o meu filho mais novo tem uma Olympus E500 e eu trabalhei muito tempo com uma Olympus OM-1 - gostava imenso daquela máquina - a par da Nikon F2 )  e pela Pentax ; um saudosismo enorme pela Leica e Rolley - o meu pai teve uma Leica e eu uma Rollei 35 S, - e pela já nao existente Minolta ( que foi comprada pela Konica e depois a Konica-Minolta vendida à Sony )  e obviamente que sei que a Canon e a Sony têm produtos de muita qualidade ( afinal tenho uma Canon S80 e duas velhas Sony ).

Porém, a fotografia é feita pelo fotógrafo e nao pela máquina, seja ela qual seja, mas...uma Nikon...é sempre e será sempre uma NIKON

4 comentários:

Vitor disse...

Excelente artigo, Artur. E não o digo por, também, ser um Nikonista, mas sim pelo pedaço de história da fotografia, que aqui partilhaste conosco. Parabéns!

AN disse...

Obrigado Vitor. Deu-me imenso gosto escrever isto !

Abraço

Rui Morais de Sousa disse...

Olá,
Também eu tenho uma F de 68, que muito aprecio (o mesmo não afirmo duma F3 que vendi). Mas tenho também algumas Leicas M igualmente com muitos anos (uma exactamente da minha idade: 55 anos)que me dão muito mais prazer...Algumas objectivas AI da Nikon são bastante boas, outras não valem, na minha opinião, grande coisa. Prefiro claramente as Leitz/Leica ou as Zeiss (ou as Schneider ou as Rodenstock...). "Germanófilo"? Talvez... De qualquer forma isto é apenas a minha modesta opinião, e obrigado pelo artigo.
Rui
P.S.: Nunca me apercebi que houvesse qualquer ligação entre a Leica e a Yashica, mas sim entre a Leica e a Minolta (Minolta CLE - Leica CL, Minolta XD7 - Leica R3, várias objectivas, etc.).
A Yashica esteve, sim, ligada à Contax!
Quanto à primeira SLR: embora não possua a certeza absoluta, estava capaz de duvidar que tenha sido a Pentax a primeira. Penso antes, que terá sido a Exakta de Dresden a ter essa honra... Se me engano, peço desculpa.
Cumprimentos.

AN disse...

Caro Rui, só hoje passei por aqui e via sua resposta e tem razão: a Kine Exacta foi realmente a primeira SLR.

Obrigado pela sua resposta e opinião

Artur